O movimento histórico inaugurado pela audiência pública no Senado Federal, no dia
24.03.2022, retrata a inquietude de uma sociedade que busca se localizar no mundo
globalizado, posto que as tecnologias supriram lacunas territoriais, no entanto transformaram
a noção de territorialidade, pois tornou irrelevante o espaço físico.
Não há como ignorar o impacto destas céleres transformações, que tonteiam um idoso e
aceleram uma criança, necessitando de novas reflexões e ações que proporcionem o
assentamento literal das ideias para a construção do conhecimento.
Num diálogo caloroso entre iguais, pois todos anseiam pela compreensão de seus
pensamentos, fica evidente o que a educação vem refletindo no ensino, quanto a defasagem
do pensamento newtoniano-cartesiano, com a fragmentação e a reprodução do
conhecimento, padecido por uma metodologia que visava apenas a memorização e a
repetição.
Havia se estabelecido que esse modelo racional minimizaria a interferência das subjetividades
no risco à eficiência do que era proposto.
Com efeito, a suplantação desse pensamento conservador, a fim de alcançar um novo
paradigma, tem sido o grande desafio enfrentado pelos educadores, a fim de construir novas
metodologias para preparar um novo cidadão, ou seja, conforme Behrens (2011, p. 15), um
“cidadão sensível, intuitivo, feliz e que seja competente para contribuir na reconstrução da
sociedade.”
Notadamente vivemos um momento de ruptura entre duas diferentes dimensões: a primeira,
baseada no paradigma newtoniano-cartesiano, de característica conservadora e fragmentada;
e a segunda, com características inovadoras, baseada na visão sistêmica que se opõe
totalmente à visão fragmentada e busca, justamente a contextualização e as interrelações dos
sistemas que integram o planeta.
Foi necessário no processo evolutivo do pensamento humano conhecer as propriedades
quantificáveis da matéria (forma, tamanho, número, posição e quantidade do movimento),
porém esse pensamento de característica reducionista fragmentou a realidade, separando
emoção e razão, e deixou como rastro uma sociedade adoecida de produção de massa.
Porém, conforme aponta Behrens (2011), essa frieza da racionalidade e da objetividade
científica tem sido questionada nas últimas décadas por educadores como Giroux (1997),
Capra (1996), que se preocupam com o futuro das gerações.
Segundo Capra (1996, p. 25), “O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo
holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes
dissociadas”.
Está mais do que evidente que o pensamento cartesiano já não se aplica ao contexto e às
necessidades desta sociedade, e precisa, portanto, ser superado e substituído, o que não
implica em denegri-lo, mas sim em perceber a obrigação de superá-lo em determinado
momento em que há necessidade de se estabelecer novos modelos.
Portanto, assim como já se sabe que aprender as letras isoladamente na alfabetização
compartimentaliza o pensamento, o que se busca em verdade é integrar o ser humano, não
apenas no espaço territorial que ocupa, mas na totalidade e posicionamento de sua existência
no seu sistema de origem.
Independentemente das ferramentas, o novo paradigma inclui, além da quantificação, forma,
e outras informações necessárias para a construção de uma ponte, ou descoberta de uma
vacina, a subjetividade e a fenomenologia da existência humana, cuja complexidade precisa
ser incluída para a construção de novas regras de sociabilidade num mundo que mudou.
Por fim, a meu ver a celeuma está na ainda necessidade de alguns em departamentalizar a
humanidade para produção em massa, e a de outros em salvar a humanidade adoecida, ambos
confusos nas suas ideologias, sem perceber o quanto servem um ao outro para complementar
o que ainda falta.
Avante, logo adiante a ciência acolherá a subjetividade como algo benéfico à reconstrução da
sociedade adoecida pela necessidade de ter que ter respostas imediatas para tudo,
esquecendo que a maturação da informação e a transformação desta em conhecimento não é
igual para todos, cada um no seu tempo.
Concluo que o primeiro passo é admitir a impossibilidade de robotizar nossas humanidades,
para juntos construirmos modelos sustentáveis ao novo paradigma que já é uma realidade.
Eunice Schlieck, advogada, palestrante, escritora e professora. Mestranda em Ensino de
Humanidades e Linguagens pela UFN. Especialista em Direito e Gestão Ambiental/CESUSC (SC)
e em Direito Sistêmico pela Hellinger Schule e Faculdade Innovare (SP). Treinamento em
constelações familiares com Bert Hellinger na Alemanha, em outubro de 2017. Treinamento
Sistêmico pelo Instituto de Constelações Familiares Brigitte Champetier de Ribes. Formação
básica complementar em Percepção Sistêmica e Práticas Integrativas pelo ILA – Instituto
Luciano Alves. Capacitação e formação ampliada em Movimentos Essenciais com Cláudia
Boatti. Capacitação em Práticas Colaborativas pelo Instituto Brasileiro de Práticas
Colaborativas. Introdução à Comunicação Não-Violenta com Dominic Barter. Coordenadora
Nacional para a temática de Direito Sistêmico da ESA Nacional, Escola Superior da Advocacia,
triênio 2019/2022. Presidente da Comissão de Direito Sistêmico da OAB/SC 2017/2022,
primeira do Brasil. Vice-Presidente da Comissão Especial de Estudos de Direito Sistêmico da
OAB/RJ 2017/2021. Presidente e fundadora do Instituto Brasileiro de Direito Sistêmico.
Professora de Pós-Graduação na Verbo Jurídico e na Damasio de Jesus. Facilitadora de
Movimentos Essenciais e Constelações.
Referências.
BEHRENS, Marilda Aparecida. O paradigma emergente e a prática pedagógica. 5 ed. Petrópolis:
Vozes, 2011.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo:
Cultrix, 1996.