O novo mundo e a tecnologia da alma.

Alissa Schmidt de Mateo Farias

“A tecnologia move o mundo”. A frase de Steve Jobs faz menção ao importante impacto que a tecnologia vem causando para a sociedade, uma vez que o mundo contemporâneo está marcado pelos avanços na comunicação e nas transformações tecnológicas e científicas. Muitas vezes nos deparamos com o desafio de como nos habituarmos a esses avanços e inovações das tecnologias.

Contudo, podemos compreender que a tecnologia é um recurso necessário e estratégico, ou seja, é um fator potencializador para o desenvolvimento.

Assim, em tempos que a tecnologia já está imersa na vida de todos, é imprescindível, além do desenvolvimento da tecnologia tradicional, também o desenvolvimento da tecnologia da alma (expressão criada pela presidente do Instituto Brasileiro de Direito Sistêmico – IBDSist, Dra. Eunice Schlieck), uma vez que “grande maioria das pessoas, as quais se empoderam em saberes tecnológicos e esquecem de sua natureza essencial”. (SCHLIECK, 2020).

Nesse sentido, sobre o desenvolvimento da tecnologia da alma, Eunice Schlieck (2020), menciona:

Necessário se faz, portanto, o desenvolvimento da tecnologia da alma, vale dizer da reestruturação espiritual, recolocando o indivíduo na centralidade da reprodução da ordem social e mundial, bem como da humanização das relações e da releitura do conflito, enquanto possibilidade de reconciliação e consequentemente da tão almejada paz, bem comum e justiça. (SCHLIECK, Eunice, 2020, p. 68)

A tecnologia da alma está na essência das coisas naturais, tendo como propósito a transformação interna e a ampliação de consciência humana, bem como a sustentabilidade dessa transformação.

Sabemos que o mundo é um lugar cheio de sentidos e intenções. Feenberg, refere que “essa concepção do mundo pede uma compreensão correspondente do homem. Nós, os humanos, não somos os mestres de natureza, mas trabalhamos com suas potencialidades para trazer à fruição um mundo significativo. Nosso conhecimento deste mundo e nossa ação nele não são arbitrários, mas são, de algum modo, a realização do que está escondido na natureza”.

O autor Winner (1987), há muitos anos, já chamava atenção para a escassez de reflexões filosóficas acerca, especificamente, da tecnologia e lembrava a importância de observar de forma analítica a natureza e a definição dos objetos e processos tecnológicos para a atividade humana.

Nesse sentido, percebe-se que a tecnologia dialoga diretamente com as questões sociais e humanas, daí a importância de compreendermos as tecnologias frente a propósitos humanos maiores. MILHANO (2010, p. 1), menciona que “perante o aparentemente incansável desenvolvimento tecnológico e os impactos que este possui sobre o homem na sua relação com o mundo social contemporâneo, torna-se urgente desenvolver as problemáticas que a tecnologia levanta à reflexão filosófica”.

Referente a questão filosófica da tecnologia, Bordin e Bazzo, elucidam:

   Filosofar sobre a tecnologia é buscar o entendimento do que ela de fato é, ou seja, é uma questão de investigar a sua essência. Há que se pensar em termos ontológicos – estudo do ser enquanto ser, suas categorias, princípios e essência e em termos epistemológicos – saber produzido. Em termos ontológicos, é necessário, então, conceituar – o que não é uma atividade fácil – a tecnologia, fazendo uma distinção entre produto e processo e entre técnica e tecnologia propriamente dita, discutir seu dinamismo e autonomia e pensar como ela – a tecnologia – impacta a sociedade ou é impactada por ela em termos econômicos e políticos, por exemplo. No âmbito epistemológico, há que se questionar sobre a existência de teorias especificamente tecnológicas, sobre a possibilidade e/ou necessidade de diferenciar ciência, ciência aplicada e tecnologia e sobre o papel da verdade na atividade tecnológica (BORDIN; BAZZO apud CUPANI, 2011).

Finalizo destacando que a reflexão proposta por Eunice Schlieck, sobre a Tecnologia da Alma é de grande valia, na medida em que leva a (re)avaliar os caminhos da alma, levando em conta o desenvolvimento humano, bem como diálogos que auxiliam os seres humanos na estruturação de concepções filosóficas e epistemológicas acerca da tecnologia da alma. Sem dúvidas, a partir desse estudo, haveremos de ter pessoas mais conscientes do papel transformador que podem assumir nesse “novo mundo”.

REFERÊNCIAS:

BORDIN, L.; BAZZO, W. A. Essa “tal” filosofia: sobre as concepções de tecnologia e seus reflexos no processo formativo em engenharia. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, v. 11, n. 1, 2018. Disponível em: file:///C:/Users/Acer/Downloads/5728-28737-3-PB.pdf . Acesso em: 03 de jul. 2021.

FEENBERG, Andrew. O que é Filosofia da Tecnologia?*. Disponível em: https://www.sfu.ca/~andrewf/Feenberg_OQueEFilosofiaDaTecnologia.pdf . Acesso em: 03 de jul. 2021.

SCHLIECK, Eunice. A filosofia jurídica sistêmica: um olhar humanizado na justiça. Brasília, DF: Ultima Ratio, 2020, p.68.

Currículo da Autora:

Alissa Schmidt de Mateo Farias: Bacharel em Direito, pela faculdade CESUSC – Florianópolis/SC; Formação em Percepção Sistêmica e Práticas Integrativas pelo Instituto Luciano Alves – ILA; Capacitação em Direito Sistêmico pelo Instituto Brasileiro de Direito Sistêmico – IBDSist.

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